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Mostrando postagens de agosto, 2012
um enxame de marimbondos ataca uma criança, não vou mentir que esta criança não fui eu um dia, arranco a camisa sob as orientações de uma vizinha, não lembra da dor, de ter tratado as picadas depois, lembro do quiosque, das máscaras feitas de cascas, o passado um dia me atacará em uma avalanche além do dia da pedalada na lagoa do café em Campinas e será sem volta, vou ficar ali mesmo entravado de artrose vidrado sem lembrar mais o nome da coisa que corta o pão, minha vó sempre o partiu com as mãos, no passado, isso eu já puxo, mas um dia será uma avalanche maior, de coisas mais antigas e será sem volta, diferente deste poema porque daí não escreverei mais. Sequer lembro da vizinha e quando ela voltar não será sozinha.

"um homem simpático e feliz"

meu vizinho boliviano tem a chita mais bonita do bairro, tem vez que a estende em um varal de onde consigo espiar e aí pouco me importa o sol, quero é ver bordô com rosa, as flores abstratas com as carnudas, é um pano sem forma, não vislumbro qual seja sua função imediata, assim tão grande não deve ser prum tampo de mesa, pra ser cortina faltam rodinhas, talvez espere para quando mais acomodado ao bairro, já sabendo o preço justo de uma boa costureira, mandar fazer um vestido bonito de se ver, confortável, os cabelos muito negros da esposa ausente.
Os filhos do meu vizinho falam espanhol. Meu noivo fala espanhol em Pittsburg. A xícara em que bato as cinzas na água é branca e hoje fiz minha primeira caminhada em dias. Penso em comprar uma bengala e começar a escrever bem.
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Me sinto uma personagem do Lobo Antunes só que sem um grande amor no exército, sem um grande amor. Me sinto uma frase da Lídia Jorge só que sem a genialidade. Me vejo socando a cara do Saramago em Lanzarote. Me sinto um péssimo leitor de Portugal por não decorar nada do que foi a Revolução dos Cravos, de qual rei é qual, me sinto péssimo. *