Trecho final de A Separação de dois esposos, Qorpo-Santo

[…]

TAMANDUÁ – Tu ainda não sabes a quarta parte da nossa! Oh! Se tu soubesses.

TATU (agarrando-o e com muito empenho) – Ora, amigo! Diz, ainda, fala; eu quero ouvir-te.

TAMANDUÁ – Não! (Com aspecto impertinente:) Não digo nada. Não quero te fazer saltar ao teto de júbilo.

TATU – Mau! Ingrato! A gente quer tanto bem a ele, e ele ainda quer ter segredos. Quer ocultar-me coisas que me podem dar prazer.

TAMANDUÁ – Não digo! Não quero! (Muito zangado e batendo com as mãos.) Estou com raiva.

TATU – Por que, meu queridinho? (Afagando-o) Que te fizeram?

TAMANDUÁ – Ora por quê! Inda pergunta? Não se lembra que por três vezes quis casas carnal e espiritualmente... com seu primo Eustaquinho; e depois (empurrando-o) até com você! E que nem ele, nem você têm querido!? Fazendo assim penar esta alma, este coração!... Esta cabeça!...

TATU – O Diabo! Tu estás variando! Quanto ao espírito, nem todos os demônios que habitam por todas as regiões são capazes de nos divorciar; e, quanto ao parir..., mais devargar; eu sou homem, (pondo-lhe a mão no ombro) não sou mulher! E tu hás de saber que é o vício mais danoso que o homem pode praticar!

TAMANDUÁ – Mas que queres? (Ainda com aspecto impertinente.) Apaixonar-me por ti de todos os modos! Paixão da alma! Paixão do corpo! E, se tu não quiseres satisfazer este desejo ou loucura..., vou..., faço..., aconteço..., pego..., levo... (atirando-lhe com as mãos), faço o diabo! (Gritando.)

TATU – Pois, já que se não contenta com o nosso casamento espiritual somente, sendo ambos homens, já que quer o imundo e absurdo casamento carnal, declaro-lhe que não sou mais seu sócio (empurrando-o).

TAMANDUÁ (empurrando-o também) – Pois eu também não sou mais seu! (Há a mais renhida luta entre eles, em que rompem chapéus, descalçam-se, rasgam casacos e findam a comédia saindo aos gritos:) Fiquemos sem chapéu, sem botas, sem camisa! Mas estamos divorciados carnalmente e espiritualmente. Não! Não! Não! (Perto das portas por onde tem de sair; e voltando o rosto para a cena, com os chapéus ou restos levantados:) Viva!... Viva!... Viva!...

(Deve descer o pano. Estes vivas algum tanto prolongados, como indicam os dois pontos, e com especialidade o último em que há numerosos.)

Em 18 de maio de 1866
Porto Alegre

Comentários

Anônimo disse…
Tá visualmente uma bagunça, como de costume, mas claro que gostei do verdeeroxo (uma cor só).
Beijos,
K.

Postagens mais visitadas deste blog

O sofá laranja da dona Vésper