Meu pai ouve canto gregoriano enquanto lê as Noites Brancas; no sofá, minha vó põe de lado a almofada que vinha abraçando ao longo da tarde para de noitinha comer o misto-quente que minha mãe lhe trouxe: todas elas se odeiam e eu sou, meu deus, eu sou a bicha que só soube ser rude. Minha irmã faz as malas.
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O sofá laranja da dona Vésper
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Um genro que eu não pedi a deus foi esse tal de Eriberto. Imagina um homem largo! Não só com corpo o traste ocupa o meu sofá e minha vida tem sido o sofá em que se espraia, feito um cheiro. Chego a desacreditar: ele na quina do sofá e não dou conta de enxergar a tv, não sei explicar. Paga pizza, traz uns mimos, é educado, até tira os sapatos na soleira, mas mesmo descalço cada pé do cretino tem quatro solas de tamanco, não é possível, uma em cima da outra, porque só ouço o eco, seco: o mundo sou eu, ele e o meu sofá. É uma bosta o sofá? É, mas é laranja e meu. Adoro laranja, comprei porque era, que na terceira prestação já dava sinais de não durar até o fim do crediário, uma bosta de sofá. Falei pra Ruthinha não pegar o turno da noite no mercado. Parece que eu previa! Além da lambisgoia agora acordar à uma da tarde, trouxe esse traste junto com o adicional noturno, é o segurança do tal mercado. Acordo bem cedo que é para quando chegar a manhã a casa estar assim como pronta, aprese...
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